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‘Se eu não tivesse largado tudo, seria mais um favelado malvisto pela sociedade’

Daniel Dhonata, atleta do CT Brasil

Qual é o preço para se tornar um lutador de MMA profissional no Brasil? Diversos nomes ficam pelo caminho, enquanto uma parcela – pequena – alcança a glória e atinge o ápice no esporte. Daniel Dhonata, atleta do CT Brasil, tem 19 anos e abriu mão de tudo, incluindo família, filha, amigos e trabalho para se dedicar o sonho de ser um atleta de ponta.

Nascido em Maricá, no interior do Rio de Janeiro, Daniel cresceu na capital Fluminense, na comunidade do Morro do 18, na Zona Norte. Criado pela mãe, Debóra Henrique, e o avô, Seu Hylário Henrique, o lutador citou o pai falecido quando ainda era bebê, mas destacou o “amor” que recebeu e como isso foi importante durante a construção do seu caráter.

“Infelizmente, perdi meu pai quando era pequeno. Na verdade, eu nem lembro como ele era. Mas em compensação fui criado por um rainha e um herói. Dinheiro me deu pouco, mas o amor me deu tudo o que eu precisava para chegar em qualquer lugar, que foi a educação, simplicidade e todo carinho do mundo recebido pela minha mãe e avô”, disse.

O começo nas artes marciais foi ainda com 7 anos, mas por conta do “bullying”, ao ser chamado de “gordo”, desanimou e deixou o Judô. Aos 12, começou a fazer Muay Thai. Desde então, Daniel precisou abandonar os treinos algumas vezes e arrumar um outro emprego remunerado, mas nunca deu certo fora do mundo das lutas. No entanto, com o nascimento da filha, precisou mais uma vez buscar algo para ajudar nas despesas.

“Pouco tempo depois (do nascimento da filha) consegui uma vaga em uma lanchonete no Méier. Após uma discussão, fui demitido. Dois dias depois, já arrumei outro (emprego), só que na cozinha de outra lanchonete. Dessa vez, durou menos de duas semanas. O dono disse que eu ‘não tinha jeito para aquilo’ e, naquele momento, minha filha tinha apenas três meses. Eu me via perdido e sem esperança de mais nada. Eu já tinha completado meus 16 anos, retornei aos treinos e conquistei minha faixa azul de Jiu-Jitsu”, destacou.

A partir deste momento, Daniel teve o apoio de Alessandro Migão e Fábio Nascimento para abrir e tocar um projeto social. Em seguida, ao participar de campeonatos de Muay Thai, conheceu Marcos Castro, responsável pelo CT Brasil. O lutador passou a treinar entre uma e duas vezes na semana, mas encontrava dificuldades por conta das questões financeiras.

 

Após uma conversa, Marcos começou a custear o transporte para o lutador treinar. Indo com maior frequência, Daniel viu evolução no seu jogo e passou a conviver mais com os treinadores do núcleo do CT Brasil, como o Mestre Augusto Cunha, um dos principais mentores do jovem atleta. Assim, foi possível aprimorar o jogo no Boxe, Muay Thai e submission, visando sempre o MMA. Além disso, recebeu uma oportunidade para trabalhar na lanchonete da academia, podendo complementar a renda e ajudar nos custos da filha.

“Não me arrependo de nada que eu fiz, até porque tudo valeu a pena. Eu nunca fui muito estudioso. Se em 2017 eu não tivesse largado tudo, minha vida seria exatamente assim: eu iria trabalhar em uma rede de lanchonete dessas por aí, iria receber um salário mínimo, sendo humilhado o tempo inteiro e passaria mais tempo com a minha família, porém eu continuaria sendo mais um favelado malvisto pela sociedade”, encerrou o jovem atleta.

Página:

http://www.superfight.com.br/noticia/mma/2018/10/19/se-eu-nao-tivesse-largado-tudo-seria-mais-um-favelado-malvisto-pela-sociedade/470.html